quinta-feira, 23 de junho de 2011

Operação Caranguejo

Ah que beleza! Acordar cedo num feriado ensolarado, frio mas sol, depois de ser sabotado pela própria patroa que não me acordou para assistir à final da Libertadores (me deixou apagado no sofá enquanto assistia sua TV, ela jurou que tentou me acordar. Mas eu sei que se ela tivesse feito algo para jantar eu seria jogado do sofá para o chão sem dó, subiria em mim, me chacoalharia sem parar até eu acordar... ontem poderia ter feito isso por um bom jogo de futebol, né não?).
Mas tudo bem, hoje vi os melhores momentos do jogo, Neymar e Ganso jogando muita bola! Parabéns para os santistas e o bom futebol no Brasil. Tomara que isso acabe com a tradição de futebol retranqueiro perpetuada aqui ao longo dos últimos anos... "Meu filho, mas esse post é sobre futebol mesmo? Vai ficar enchendo o saco com o seu glorioso Paulista de Jundiaí GALOOO?"... Não, relaxa, hoje não!
O que todo mundo sabe e diz como se fosse água saindo da torneira é que futebol não passa da milenar política de pão e circo para o povão (incluindo eu! GALOOO), consagrado e beatificado pelos absurdos 100 bilhões a serem gastos na Copa do Mundo (só em estádio meu Deus!) sem necessidade de abrir as contas publicamente, etc. etc. e tal. Isso é claro como chopp com muito gelo! Ok! Mas eu acho que o buraco sem fim está ficando cada dia mais fundo (sem fim e mais fundo, como pode? Pode sim! Vai ver!) e o pior: cada brasileiro tem uma hiper-super-pá modelo 0111406 na mão, que cava 3 vezes mais rápido que qualquer outro modelo e não é só isso! Já vem com uma lápide de graça! Ligue já para o número que está na sua tela... bla bla bla...
Se o Brasil fosse uma empresa, aqueles papos baratos de Missão, Visão e Valores da empresa seriam respectivamente "Ter", "Trabalho para isso ué!" e "Quanto custa mesmo?". "Ae João, você é o que? Argentino? Europeu? Americano? Fica aí falando mal da gente...", sou brasileiro, meu! Mas nada impede de apontar o dedo para mim antes de apontar o dedo para outro nego (bom lembrar o leitor que esse tipo de prática ainda faz parte das melhores práticas de qualquer convívio humano!).
Apesar de tudo isso ainda somos um povo muito gente boa perto dos europeus que são tão quentes como a Sibéria. Que paradoxo! E é bom comentar o que o povo de lá vem achando da gente aqui. Bora entender o que eu acho que estou pensando (para os niilistas parnasianos: gerúndio proposital). Conversando com qualquer gringo que saiba um pouco do que rola fora de seu país, todos ficam entusiasmados com as Veras-Loyola da economia mundial! A Índia está engordando suas contas bancárias para construir um puxadão para ela, a China quer comprar um novo colar de pedras preciosas para todo mundo ficar com inveja, a Rússia está reformando sua mansão para mostrar que ela voltou com tudo e o Brasil está fazendo de tudo para ser notado no salão nobre mundial: compra eletrônicos (úteis ou não), exporta todo tipo de turista (vai por mim, em qualquer canto do mundo tem gente falando alto português, reclamando de comida que "não-conhece-não-tem-feijão?" e com crianças mal-educadas que berram porque não têm o que têm no Brasil) e mostra bons números de crescimento.

Típico brasileiro "around the world"

Agora vem o xis da questão: crescer para qualquer lado é válido? Lembra do episódio do Snoopy que o Charlie Brown está numa maratona estudantil, passa todo mundo que até começa a pirar na idéia de ganhar. Só que nessa pirada ele roleta uma curva, sai do estádio e vai parar loooonge da linha de chegada? Galvão diz: Charlie Brown hoje é Brasil! Passando reto na linha do óbvio! Um gringo me perguntou outro dia que o Brasil é o país do futuro e tal... na boa? O Brasil cresce e a miséria está diminuindo sim! Mas dentro de qualquer classe A, B, C, D, E e qualquer outra letrinha do alfabeto latino, o bom brasileiro prefere comprar a última TV 3D disponível do que ter 1 conhecimento plus-a-mais! Sim filho! Plus-a-mais! Quem se lembra que a gente achava um absurdo que no Japão jogavam uma câmera de vídeo fora quando encontravam um defeito nela e compravam outra na sequência? Hoje eu vejo no Brasil computadores antigos no meio da calçada! Sem aquela lenga lenga de ficar botando 100% da culpa no governo, nós somos bem porcos e sujos se pensarmos friamente. Quem aqui tem o mesmo celular há mais de 1 ano? Tem gente que prefere ter um TV à cabo do que ter uma educação boa. Convenhamos que a educação no Brasil é uma instituição falida mas que funciona para o projeto de vida para a maioria dos brasileiros consumistas. O importante é ter algo que você pegue na mão, mostre para os outros, use-abuse antes de cair no desuso, aí você compra outra coisa mais nova! O Brasil cresce em consumo de maneira cretina, mas inversamente em cultura! Obviamente nem todo mundo tem condição de comprar tudo com seu trabalho, temos muita miséria por aqui. Mas aí entra outro porquê: por que que um cara te assalta para depois comprar "uns pano da hora, uma bombeta e um tênis"? Por que a mídia e o marketing desalmado falam para esse cara que ele PRECISA dessas coisas. Reparou que nós, que temos um trabalho estável e razoável nível de vida, estamos virando uns americanos? Americanos em geral são gente boa, não sabem nada do mundo (a gente está ficando beeeem assim, pergunta para alguém qual a capital do Paquistão! País da moda!), vivemos condicionados a trocar de carro sempre, estamos antenados em tudo que é evolução tecnológica, mas ler um livro que não seja O Pequeno Príncipe ou Paulo Coelho é como procurar o nome do Corinthians na lista de campeões da Libertadores? É sério... estamos entrando num buraco cultural-educacional tão grande e temos a falsa impressão que estamos andando para frente. Tomara que estejamos andando de lado pelo menos!

quinta-feira, 2 de junho de 2011

Sabe daquelas histórias de filme barato americano, bem de sessão da tarde, que era uma vez um caipira que se encontra com a cidade grande pela primeira vez na sua vida, acha tudo a sua volta é um absurdo? Ele vê gente comprando leite numa caixa "de madeira", enquanto ele tirava leite direto da vaca ou ainda quando ele pára na frente de uma escada rolante e mal sabe o que fazer? Será que esse monstro vai engolir ele? Será que é seguro? Ele deve caminhar contra ou a favor da escada? Eita!
Mas do alto de quem perde o tempo acessando esse blog aqui, com certeza não passou por um treco desses, certo? Rá! Será? Será? Será? O mundo todo é uma tábua plana com todo mundo dirigindo do lado esquerdo do carro, semáforo sempre se chama semáforo e andar a noite na rua é um perigo só! De novo, pergunto novamente, será? Será, meu filho? Eu acho que esse é um dos grandes erros do ser humano: imprimir no resto àquilo que lhe é sabido. Interpretação também é um dos maiores erros da humanidade, mas foco! Bora manter o foco!
Que carinha de nojinho que muita gente faz quando chega em outro lugar que não seja o Brasil e não se serve arroz e feijão. "Como não tem arroz e feijão?" Ué filha, não tem pô! Não é fina? Come a parada aqui sem arroz ué! Aqui é assim! Sempre foi assim, você vai morrer, seus filhos também vão passar por essa vida e, provavelmente, aqui continuará sem arroz e feijão!
Outras coisas engraçadas também são alguns valores completamente opostos de um lugar para o outro. Vou eu entrar em algum lugar mais bonitinho de havaianas nos pés. Bem capaz que me barrem... mas vai para Europa! Essa tirinha de borracha amarrada de um jeito safado numa prancha de borracha é coisa chique, digna de uma mulher com uma pele de raposa no pescoço e jóias pelo corpo! Que cretinisse. Um exemplo menos materialista é falar "bom dia" e "boa noite" para todo mundo que você cruza na rua: pode ser normal em tal lugar, dispensável em outro e realmente ofensivo em lugares que não é necessário ser cordial com quem você não conhece! Pára e pensa, alguma coisa é correta nessa vida? Cada dia que eu respiro mais um pouco chego à conclusão que não.
Imagina agora um cara cabeludo que se amarra em visitar uns lugares históricos. Fez a imagem do cara? Legal! Ele andou bastante o dia todo e, por isso mesmo, estava portando uma camisa de time de futebol (dry fit, essas desgraças que secam o suor rápido). Ele estava num lugar meio longe de onde ele mora. Andando nas praças e ruas desse centro histórico, tem sempre alguém panfletando ou vendendo algo. Mas não chegam nem perto de dar um papel com um reclame de restaurante para ele. Esquisito, não? Quanto mais cedo o cara distribuir seus folders comerciais, mais cedo acaba o trabalho, não é não? Esquisito mais uma vez... mas fazer o que? Parando em frente a um espelho ele certifica-se que não é transparente, não é vampiro, nem fantasma (se belisca até sangrar). Então vai seguindo seu itinerário até uma igreja antiga (dica dele depois de tomar na cabeça: visitar igreja de domingo é uma roubada danada, especialmente num país muito católico, que que ele viu? Missa para todo lado e toda hora! hahahaha). É bom lembrar que ele não crê em algo de barba branca, que pune todo mundo que não segue sua cartilha. Nem acredita que ritos e obras diversas são mais importantes do que ser correto e cordial dia após dia. Também não coloca ciência como escudo-ideológico-clichê-pastelão como premissa para as coisas que não sabe explicar... nego difícil esse!

Recolhe a pipa e volta! Igreja adentro, missa. Com dizeres garrafais "Não é permitido turistar durante as missas". Ok ok. Ele se dirige às cadeiras no fundo respeitosamente e vai seguindo o ritual: fica de pé, senta, dá a mão, dá paz de Cristo sem saber falar isso na língua desse lugar (bom lembrar, a primeira vez que ele participou dessa de paz de Cristo numa igreja foi bem assim: "Blz cara!", "e aí?", "tudo de bom para vc"... e todo mundo olhando torto... ué? Não era para se desejar o bem? Não entendi... não sabia. Dá próxima vez ele ia sair dando paz de Cristo na rua). Ele já foi desses que ficava o tempo inteiro sentado na cerimônia/ritual, como forma de protesto, bravo, não concordando com aquelas patacoadas de sermão "se você não contribuir com dízimo você estará no mesmo nível de um escravo egípcio", mas que protesto pequeno esse né? Chega a ser birra... pago um páu danado para as pessoas que passam desapercebidas no meio de um lugar que não têm nada a ver com elas (aka: vejam o seriado do psicopata Dexter! Odeio seriados, mas este me ensinou muitas coisas, sem necessariamente precisar/querer matar ninguém). Terceira vez recolhendo "o pipa". Então, chega a hora que um casal tira uma cesta para recolher um dinheirinho. Vai passando na igreja toda, o homem do lado esquerdo e a mulher do lado direito. O homem vem até o fim, nosso protagonista com as moedas na mão, e o tal homem não passa nem perto dele! "Espelho espelho meu, que que será que contece com eu?". Agora vem a senhora, abro um sorrisão, ela pára e volta para o altar sem passar por ele! Ué? Pode ser o cabelo comprido mal encarado, acho que só Jesus e todos os santos e padres e papas que estão nos murais podem usar cabelo comprido! Ou será que é a camiseta de futebol? Num país campeão em copa do mundo, ninguém gosta de futebol... é! Pode ser isso! Ou ainda seu sorriso? Ser carrancudo e triste deve ser premissa. Enfim, ele desencanou, já que nenhuma dessas respostas iria mudá-lo ou iria mudar o lugar que ele estava e ficou vendo a missa tendo como trilha sonora música renascentista tocada naqueles órgãos centenários. Fim da missa.